Como a falta de transparência pode influenciar negativamente o setor de saúde

Acesso a mapeamentos de custos tem sido prioridade no setor de saúde e podem representar um recurso importante para sustentabilidade financeira de empresas.

 

São muitos os fatores envolvidos em uma gestão eficiente de custos médicos, afinal as despesas nem sempre são claras ou evidentes. A falta de comunicação entre as prestadoras de serviço e a falta de confiança na relação de negócios estabelecida entre operadoras de planos de saúde e as prestadoras, é um fator que impossibilita o entendimento de diversas questões no setor de saúde.

Esse é um grande desafio, pois a desconfiança acontece de forma mútua e representa um ciclo: as operadoras desconfiam de suas prestadoras e questionam tanto os custos quanto a quantidade de procedimentos realizados, glosando diversos itens no faturamento; em contrapartida, as glosas atrasam ou evitam que as prestadoras recebam por seus serviços, fazendo com que algumas delas inflem o número de procedimentos a serem realizados, na esperança de compensar pelas perdas.

Ambas as empresas se escondem atrás de restrições legais e usam a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que obriga que pacientes autorizem o uso e compartilhamento de suas informações, como desculpa para a não divulgação de dados. Essa falta de transparência influencia diretamente o setor, já que sem um detalhamento e uma base de custos, fica mais difícil visualizar os obstáculos financeiros e os prejuízos que impedem o desenvolvimento dos negócios.

Essa desculpa é contraditória, já que o público pode se beneficiar dessa interação, permitindo que pacientes que, nesse caso também são clientes, tenham um instrumento de consulta para entender os gastos por trás de sua conta médica. Do ponto de vista econômico, entender os custos envolvidos no tratamento de pacientes permite uma visão mais estratégica, pois é possível avaliar, por exemplo, a necessidade da procura por procedimentos ou medicamentos alternativos e menos custosos, além da verificação de oscilações financeiras em cada tipo de serviço.

“A transparência de custos é uma iniciativa importante para garantir que as instituições de saúde sempre prestem cuidados de qualidade aos pacientes de forma financeiramente sustentável e, por isso, eficaz. É fundamental que elas tenham domínio do perfil de custos, com seus possíveis movimentos ou oscilações financeiras para cada tipo de serviço, para que com isso conquistem cada dia mais sustentabilidade para atuar no seu segmento, e atendam com qualidade não apenas este paciente, mas toda uma sociedade”, afirma Josiani Sofiatti, Especialista de Soluções e Co-Fundadora da Weknow Healthtech

Atualmente as estimações são feitas em cima da taxa de sinistralidade e não através da análise de custos reais, o que só atrapalha a busca por precificações justas. A difusão de ferramentas de inteligência de dados pode ser uma iniciativa importante nessa missão e pode evidenciar a necessidade de ajustes na formação nos preços de produtos e serviços no setor como um todo. Essa mudança pode ser uma saída para que as prestadoras de serviços não operem com prejuízos.

No fim das contas, enquanto operadoras e prestadoras travam essa batalha, empresas verticalizadas da área, ou seja, que controlam todas as etapas da jornada do paciente, são as que mais crescem. Afinal, elas controlam seus centros de custos e possuem controle total sobre todos os processos e insumos realizados em sua rede. Essa é mais uma prova de que a transparência deve ser imperativa, mas só é possível se as empresas abrirem as contas. Isso diminuiria a desconfiança tanto para quem paga, quanto para quem recebe.

Além disso, a transparência diminuiria a dificuldade que as empresas têm hoje de prestar seus serviços, já que precisam bancar os valores antes do retorno por parte das operadoras, pacientes ou do SUS. O mapeamento de custo seria uma maneira das instituições eliminarem desperdícios e ineficiências, o que diminuiria o impacto dos prazos de recebimento e resultaria em um direcionamento mais assertivo de seus recursos.

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